quarta-feira, 1 de abril de 2009

Tata Nano: a Revolução!

Já começou a ser mediatizado cá para os lados do Velho Continente a mais recente pedrada no charco da indústria automóvel indiana para o Mundo. Estou obviamente a falar do Tata Nano.







Não acredito que haja alguém que ainda não tenha ouvido falar do mais recente "esquema" da companhia de Ratan Tata, mas supondo que haja quem ainda não conheça este ratinho, aqui vai.
O Tata Nano é (para nós) um citadino com 3,10 metros de comprimento - portanto, maior do que um Smart (2,7m), mas mais curto do que um Twingo (3,6m) - com capacidade para 4 pessoas, se bem que na Índia irá transportar muito mais do que 4 pessoas. Será equipado com um motor de dois cilindros a gasolina com 33 cv de potência que permitem uma velocidade máxima de 120 km/h (o Smart não dá muito mais do que isso). Foi inicialmente concebido para custar cerca de "300 contos" no mercado doméstico, a emergente Índia.
Para além disso, o motor e a tracção são... atrás, tal como em muitos automóveis do tempo dos nosso pais e avós - e esta é uma solução de engenharia que tem sido recuperada nos últimos 5 anos para projectos futuros (Smart, na VW ou na Fiat/BMW).

Mas o melhor de tudo é aquilo que o Nano representa para a Índia e para o mercado global. Mais do que um citadino sem luxos, o Tata Nano é... O MOTOR DA ÍNDIA, tal como o Citroën 2CV e o VW Carocha foram para a França e para a Alemanha, respectivamente, durante a reconstrução e a recuperação do pós-guerra!
Para quem não sabe, apesar do gigante número de habitantes, a Índia tem um índice de automóvel por pessoa baixíssimo. A maioria dos indianos não tem dinheiro para um meio de transporte pessoal e os que o têm, optam por comprar motorizadas com qualidade de construção pobre e motores insuficientes, mas onde chegam a transportar famílias de 4 e 5 elementos - isso mesmo, todos em cima da moto.

Foi então que Ratan Tata começou a engendrar uma forma de pôr, rapidamente, a Índia sobre rodas, e eis que começou a desenvolver o Nano.
O Nano irá custar cerca de €2500 para o mercado doméstico, preço que corresponde apenas a um pouquinho mais do que uma dessas motorizadas na Índia. Para além disso, é suficientemente compacto para se movimentar nas caóticas e poluentes grandes cidades indianas e já pode transportar de forma mais confortável a sua família de 5 ou 6 elementos (mesmo que, oficialmente, o Nano só possa transportar 4... mas a Índia não tem a BT da GNR nem coisas parecidas) e alguma pouca bagagem.

Como é que Tata conseguiu que esta coisa custasse tão pouco? Para começar, a mão-de-obra na Índia é suficientemente barata, mas não é suficiente para este preço de arromba. Depois, o recurso a uma engenharia inteligente e inovadora nesta indústria, bem como o uso de componentes baratos de produzir ajudaram. Para além disso, os painéis da carroçaria do Nano são feitos de plástico ultra-resistente - e não, não se parte como o plástico dos tupperwares, este tipo de plástico já foi usado nos anos 70 em automóveis e é o futuro da indústria quando o aço e o alumínio não derem para mais - e em vez do processo soldadura do aço, os mesmos painéis, bem como inúmeras outras peças, são fixadas e montadas graças a uma cola especial desenvolvida especificamente para este propósito. A ajudar à redução de custos, a qualidade dos materiais no interior é, naturalmente, pobre e o equipamento foi reduzido ao estrictamente necessário, havendo, no entanto, versões mais bem equipadas como a desportiva (nas fotos, com pintura amarela).

É mais do que óbvio que logo se apressaram as vozes críticas a surgir, afirmando que o Nano é o mote para a sobre-lotação do parque automóvel indiano, contribuíndo ainda mais para que a Índia seja um dos principais cancros de poluição do Mundo, factor que irá agravar-se com o constante crescimento económico-social-industrial-etc deste país.
O que essas vozes se esquecem é que nós europeus já fizemos exactamente o mesmo há 60 anos e que os indianos apenas estarão a dar essa mesma oportunidade a eles mesmos.

«Eu não quero essa coisa cá! Deus me livre comprar isso, prefiro um Corsa de 1990 com 300 mil kms!»

Este é o comentário mais frequente do average-tuga com reduzida massa encefálica (ou seja, a maioria) pelos fóruns de automóveis e em comentários a notícias sobre o novo Tata.
Tudo isto porque a Tata já anunciou planos para comercializar o Nano por cá. A versão europeia foi apresentada há bem pouco tempo no Salão de Genebra... e é substancialmente diferente do que havia sido apresentado para o mercado indiano. E ainda bem! O mercado europeu, sendo o mais exigente do Mundo, não admitiria que uma coisa dessas fosse vendida por cá... pelo menos tal como havia sido apresentada na primeira ocasião.
Para além das inúmeras alterações estéticas que o tornam um carrito engraçado (e arriscava a dizer bonito - mais bonito, pelo menos, do que muita trampa que por aí anda, mas de que o Zé Povinho gosta muito), o Nano foi profundamente alterado para o mercado europeu, de forma, não só a cumprir todas as normas de segurança/poluição/homologação da UE, mas a agradar um pouco mais ao consumidor europeu. De qualquer forma, o Nano será sempre um automóvel que encaixa que nem uma luva no conceito de low cost cuja visibilidade e sucesso comercial são crescentes na Europa. Sabe-se que as versões europeias irão dispor de um motor ligeiramente mais potente e menos poluente, e que o equipamento será bem mais rico, dispondo todas as versões de ABS e de airbags, entre outros. Ratan Tata afirmou ainda que pretende que o Nano atinja, pelo menos, 4 estrelas nos testes do Euro NCAP e que, caso contrário, os planos de comercialização na Europa serão suspensos. Aguardamos com curiosidade os testes.




Entretanto, algumas publicações da imprensa automóvel já tiveram a oportunidade de guiar este ratinho e... (surprise!), as reacções foram bastante positivas. É mais do que óbvio que os jornalistas já sabiam que o interior vinha despido de equipamento e de plásticos de qualidade, e que a carroçaria tem uma altura que faz subir o centro de gravidade, mas todos eles se mostraram entusiasmados com a condução do pequeno Nano, principalmente em circuito citadino e que comporta-se bastante bem para o tipo de carro que é. Recordo que o Nano pesa apenas cerca de 600 kgs (um Twingo ou um smart pesam pelo menos 850 kgs), o que facilita a maneabilidade do carro e que possibilita que o carro seja minimamente veloz, mesmo com um motor com tão pouca potência. Por falar em motores, sabe-se que a Tata está a desenvolver para este o mais barato carro do Mundo uma versão eléctrica e outra... com um motor a ar comprimido!

Por mim, aguardo com curiosidade o Nano, pois não é todos os dias que o Mundo vê nascer automóvel tão peculiar e com importância cultural tão grande.