terça-feira, 21 de julho de 2009

Afirma Pereira [com update]



Como se já não fossem suficientes as atrocidades com que somos obrigados a levar nas crónicas jornalísticas, nos blogues e nas intervenções da SIC Notícias, foi decidido que o fabuloso Pacheco Pereira teria agora também direito a um espacinho de opinião no seio do mesmo canal televisivo.

Não há nada de mal nisso. Os programas de opinião têm utilidade pública e existem há muito tempo. O problema começa quando à frente deste pomos alguém como Pacheco Pereira. É mais do que óbvio de que não nutro a mínima simpatia por esta figura (política) e pelas calamidades que costuma cuspir para a esfera pública, envoltas e disfarçadas de sabedoria académica e de bagagem política (que às vezes desconfio estar vazia). Mas antes que me ataquem logo de opções partidárias neste mero post - de opinião! - os que e conhecem, sabem que não tenho qualquer afiliação partidária e nem tenho vínculos afectivos particulares a nenhum dos extremos da entropia política (e muito menos ao centro do linear). Portanto, o argumento do «ser anti-PSD e anti-direita» está excluído.
Pois sim, eu podia estar a escrever sobre as diversas catástrofes naturais que o Dr. Francisco Louçã, Jerónimo Martins (ou até mesmo sobre a actual grande paixão de Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite) proferem regularmente, mas como foi o novo Ponto Contra Ponto que me beliscou e é aqui que me fixo neste post.

A começar logo logo pela postura típica - sem nunca fugir (porque nisso é exímio e fiel a si mesmo) - à do típico professor universitário, narcísico, arrogante e desinteressante.
A segunda característica que achei engraçada foi o facto de Pacheco Pereira começar por introduzir o formato através de uma espécie de choramingar, de birra por não ter real representatividade política hoje, afirmando que a liberdade nunca esteve tão ameaçada na História recente do País, como actualmente. Aquilo de que se esquece é que mais tempo-de-antena do que era possível, ele não podia ter! E que liberdade essa, tem-na toda, a contar com a orientação ideológica da maior parte dos media onde se expressa, que não difere muito de media para media e que, por sua vez, também não se afasta muito da sua.

Contudo, o mais curioso de tudo é que, as emissões de Ponto Contra Ponto, para além das vingançazinhas pessoais, giram em torno da (pseudo-)crítica e análise a itens jornalísticos. Só é mesmo pena que se fique pelo pseudo, porque para além de análises meio egocentralisadas, não vejo mais nada.
A conclusão a que cheguei é de que, em diversos momentos, Pacheco Pereira opta por analisar... a coesão textual linguística de publicações... Só que alguns dos exemplos que deu não têm qualquer erro ao nível da coesão textual (pelo contrário, só mostra parcialidade na leitura dos artigos e incapacidade de análise superficial), o que é grave por parte de um docente universitário.

Na última emissão, o senhor decidiu começar por falar sobre os comentários de leitores nos sites oficiais de algumas das publicações jornalísticas em Portugal, construíndo a sua opinião através de metáforas pobres e pouco imaginativas. Não teve sequer em conta o facto de não poder avaliar o fenómeno "imprensa na internet" da mesma forma que avalia a imprensa noutro contexto, dadas as singularidades do fenómeno sócio-cultural que a web representa.

Então, qual é a principal ideia que se retém desta... coisa (ainda não sei se lhe deva chamar programa)?
Quem frequentou o ensino superior, de certeza absoluta que se lembra de um professor ou outro que fazia parte da mobília da casa e que, por essa razão, achava-se no direito de exercer a sua falta de auto-estima através da arrogância e da prepotência nas aulas e no âmbito das disciplinas. E quem não se lembra dos professores antigos que, por desleixo, ou por falta de jeito para qualquer actividade, lá tinha que dar umas aulas e leccionava anos e anos, indo para as aulas, na maior parte das vezes, sem um planeamento, uma estrutura programática, dissertando sobre o que bem lhe apetecia naquele dia?
O Ponto Contra Ponto é precisamente isso, com a diferença de que tem telespectadores, em vez de universitários desesperados. Aliás, seja aqui, ou na Quadratura do Círculo, ou noutro contexto, a postura de Pacheco Pereira é sempre essa.

Não há nada de errado com os programas dedicados a espaços de opinião. Mas isto serve para quê? Para além de termos Pacheco Pereira a dissertar negativamente sobre os seus ódios de estimação - mais ou menos como os cronistas da imprensa sensacionalista, não é diferente - não estou a ver qualquer outra utilidade.
A Manuela Moura Guedes também devia ter um espaço de opinião onde ela pudesse aliviar o stress, dizendo os disparates não-jornalísticos que lhe apetecesse, mas não... Temos também de levar com uma actividade lúdica todas as sextas-feiras num canal generalista, em prime time.

Dentro de dias, acrescento aqui o sketch cómico d'Os Contemporâneos do dia 19 de de Julho, sobre esta... coisa. É ilucidativo.

UPDATE: aqui está ele. Enjoy it.

5 comentários:

poor guy fashion victim disse...

O Pacheco Pereira é o Marco Paulo dos Comentadores políticos e a continuar assim ainda se tornma o António Calvário

Sérgio (aka D4) disse...

O teu artigo está ao nível de um prémio de jornalismo, mas não precisavas de ser tão correcto com esta "avantesma" política e anti-democrática que perfura o "bom senso" da República. Digamos que o Pacheco é a peixeira do Bolhão da política portuguesa, gosta de mandar uns "bitaites", embora nada do que diga faça sentido ou tenha fundamento. Só para finalizar, o senhor Pereira sempre foi a personificação do ditado "quem tem telhados de vidro não atira pedras"... O telhado dele é muito frágil, bastante fino e presumo que já reste muito pouco.

Zunkruft disse...

Obrigado pelo comentário, Sérgio. De facto, a utilidade deste senhor na vida pública é nula, ainda para mais como, tal como referiste, os telhados deste senhor são de acrílico chinês de má qualidade.

PGFV: pelo menos o Marco Paulo conseguiu criar uma figura engraçada e (ainda) têm um público! Ah ah ah

boa noite, má manhã disse...

Já leste o sobre televisão de Pierre bourdieu ? penso que existe na net em portugues em pdf o livro completo, és capaz de gostar descortina coisas sobre a caixa "mágica" .

Zunkruft disse...

Desconheço, mas vou ter em conta a sugestao... xD