segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dia Mundial da Luta contra o Monstro



Comemora-se hoje, uma vez mais, o Dia Mundial da Luta contra a SIDA. Passaram-se quase três décadas desde a identificação do vírus e da classificação e reconhecimento por parte da OMS do Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

Enquanto isso, principalmente em países de África e da Ásia, onde um comprimido custa para essas pessoas centenas ou milhares de vezes mais aquilo que custa para nós, a epidemia começada por esta doença não pára de fazer vítimas. A SIDA irá continuar a sua cruzada pessoal. É um monstro que se tem que combater.
Fomos nós que o criámos. Porque o monstro não é, no fundo, a forma como a doença afecta as pessoas clinicamente.

Nós somos o monstro e somos nós que o alimentamos. E há vários feeders para o monstro.
É a interesseira, corrupta e demoníaca indústria farmaceutica mundial que só tem a ganhar se conseguir fazer render o máximo possível com medicamentos e com soluções químicas que valorizam por serem extremamente necessárias e urgentes. Por isso, também só beneficia se atrasar o máximo possível a circulação e acesso a essas mesmas substâncias e a esses medicamentos.
São os corruptos chefes-de-Estado destes países pobres que beneficiam da falta de informação para conseguir alimentar as suas fortunas, a sua sede de poder e a vontade de continuar a estar no topo da pirâmide política do seu país por muitas décadas a roubar riqueza, como se de chefes de tribos primitivas ainda se tratassem.
Somos nós, que vivemos em países - supostamente - desenvolvidos, e que insistimos em ajudar a manter o mosntro vivo.
Somos nós, que temos fácil acesso à informação útil sobre esta doença na nossa mão há vinte anos e que insistimos em adoptar práticas de risco.
Somos nós, os nossos superiores hierárquicos e aqueles que nos rodeiam que insistimos em afirmar que existem grupos de risco em vez de termos tomates para admitir que apenas existem práticas de risco. Somos nós que persistimos em perseguir determinados grupos sociais e de discriminá-los em busca de um culpado, quando a culpa é apenas nossa.
São os nossos patrões, os nossos vizinhos e até a nossa família que nos despedem, que deixam de nos dizer "bom dia" e que deixam de nos contactar porque o monstro que alimentamos nos atacou a nós.

Será que, desta vez, vamos utilizar o argumento "crise económica Mundial" para parar a luta?
Durante quanto tempo mais vamos querer manter o monstro respirar?
Durante quanto tempo mais vamos querer continuar a produzir anti-virais de custo reduzido ou amortizado e vamos continuar a recusar enviá-los para África - onde se está mais vulnerável aos ataques do monstro - e distribuí-los por quem precisa desesperadamente por egoismo puro?
Durante quanto tempo mais vamos manter o estigma do "preservativo que tira a sensibilidade, o prazer e que interfere com a defesa da masculinidade"?
Durante quanto tempo mais vamos continuar a demitir dos seus postos de trabalho pessoas capazes e a excluír das nossas vidas aqueles a quem o monstro já atacou?
Durante quanto tempo mais vamos fingir que o monstro é o papão e que irá embora quando adormecermos?

A fotografia que ilustra este artigo é da autoria de David Wojnarowicz, pintor, fotógrafo, escritor, e director de filmes e de espectáculos de artes performativas. Wojnarowicz era homossexual, vivia em Nova Iorque e faleceu em 1992, depois de infectado com o vírus da SIDA.
Esta imagem é a capa do single da canção "One" dos irlandeses U2 e deu origem a um doa três videoclipes para este tema. Uma das três interpretações desta canção remete para uma conversa entre pai e filho, em que o segundo, vítima do vírus, reconhece que «we're one, but we're not the same / we get to carry each other». Quando a "One" foi lançada como single, os lucros obtidos reverteram para instituições de pesquisa científica e para organizações no apoio na luta contra a SIDA.

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