quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A doença do SETAGANSO - editorial Destak 12/02



A partir de hoje, passará a haver aqui no ZOOROVISION, mais um grupo de temáticas que julgo extremamente importantes e pertinentes. Trata-se, não só da questão do casamento civil e da alteração da lei do casamento contemplando pessoas do mesmo sexo, mas também todas as linhas de pensamento que este tema desencadeia: homossexualidade, orientação sexual, homofobia e heterossexismo, activismo político-social, entre outras.

O que é que me fez desencadear estes tópicos no ZOOROVISION? Em primeiro lugar, o chorrilho de disparates e de homofobia camuflada que os media têm oferecido às pessoas através dos debates, de entrevistas e de comentários a artigos online.
A gota de água foi, no entanto, o editorial do jornal gratuito Destak, pela mão da jornalista e escritora Isabel Stilwell, publicado no passado dia 12 de Fevereiro. Cliquem no link e leiam o artigo proporcionado pela senhora.
O que publico a seguir é o comentário que enviei para lá, expressando a minha indignação mas, sobretudo, o meu desapontamento. Tirem as vossas conclusões (não é difícil de chegar a alguma).

Tendo em conta a postura adoptada pela Isabel Stilwell nos textos em se que pronuncia, sempre a tive como uma pessoa informada, coerente e inteligente, mesmo que alguns editoriais do Destak sejam menos felizes (o que pode acontecer a qualquer um) - e que é o presente caso.

Para além da falta de informação que o seu texto denota, a Isabel evidencia sofrer da doença do SETAGANSO: ou seja, do Síndrome do "Eu tenho amigos gays, portanto, não sou homofóbica". Nada mais errado. Homofobia não é apenas o bullying a crianças homossexuais na escola ou na rua e não é o despedimento de uma lésbica em função da sua orientação sexual. É muito mais do que isso e é o que vem a seguir ao heterossexismo, se traçarmos um contínuo ideológico em que, apesar de ambos serem formas de discriminação, a homofobia é mais grave pois transcende diversos limites, mesmo que os que a pratiquem não se apercebam - que foi o caso da Isabel Stilwell neste pequeno apontamento.

Nunca pensei que fizesse parte do grupo dos que vem utilizando frequentemente a instituição casamento, simultaneamente, como arma de arremesso e como escudo protector face à homofobia camuflada e socialmente aceite.

O casamento:
1) Não é objecto de pertença de qualquer instituição religiosa;
2) Não é objecto de pertença de quaisquer grupos sociais.
3) Por outro lado, a Isabel sabia que a sociedade sofreu tantas alterações nos últimos séculos que, culturalmente, a simbologia da instituição casamento pouco ou nada tem a ver com aquilo que seria, provavelmente na sua génese cultural? Alguma vez se apercebeu disso?

Alguma vez reflectiu sobre a razão de o Estado ter tido a necessidade de separar o trigo do joio e de criar a noção de casamento civil (que a Igreja Católica não reconhece sequer)? Não me diga que ainda não percebeu que é do casamento civil que a discussão tem sido envolta (e que é isso que importa mudar) e que não se trata do sagrado matrimónio...

Ou então, tal como a Igreja Católica fez recentemente, vai-me dizer que é "antropologicamente incorrecto" (gostava de saber que estudos antropológicos tiveram em conta, mas enfim...)?

Todavia, se formos a analisar a questão do ponto de vista psicológico, qualquer pessoa que se veja ofendida ou que ache que o casamento (ou seja que forma de união sentimental for) serve para a procriação e que corrobore com o argumento da "continuidade da espécie" está, obviamente, com problemas de homofobia, isto é, tem questões mal resolvidas relativamente a medos irracionais para com uma realidade alheia (neste caso, a homossexualidade) devido à sua estrutura de valores. Agora... justificar a sua opinião com uma base económico-financeira? Que baixo! Esperava isso de Manuela Ferreira Leite, não de uma jornalista como a Isabel!...

A proposta de Sócrates é sinónimo de oportunismo político? Sem dúvida nenhuma! Mas isso não invalida que se altere aquilo que é correcto (e inconstitucional, ainda por cima - e isso é gravíssimo!). Ah, e o argumento do "numa altura de crise, há outras prioridades" não tem qualquer validade, porque: esta medida não irá a afectar ninguém (bem pelo contrário) e porque toma apenas alguns minutos numa sessão da Assembleia.

Como representante de uma instituição dos media (que ainda para mais nem sequer tem uma posição extremista, seja à esquerda, seja à direita) que é, é vergonhoso que o Destak tenha contribuído para mais uma forma de discriminação da homossexualidade e para o separatismo heterossexista da sociedade portuguesa. Como leitor assíduo do Destak, foi uma autêntica desilusão ter lido este editorial.

Independentemente de ser aceite ou não, este comentário será, naturalmente lido, e será publicado de outras formas, na íntegra ou parcialmente.

Lido o meu comentário, apenas tenho a acrescentar que, pior do que a opinião de Isabel Stilwell, é o facto de o Destak ter compactuado com isso, principalmente se tivermos em conta que é um jornal de distrubuição gratuita - ou seja, tem um publico do mais vasto que se pode imaginar em Portugal - e que, portanto, tem uma enorme responsabilidade na publicação de textos de opinião que são, muitas vezes, os objectos de educação das massas relativamente às mais diversas temáticas sociais. É portanto, vergonhoso que um jornal com o peso do Destak tenha deixado isto acontecer.

De facto, «Ninguém escolhe ser homossexual» (nem heterossexual, a orientação sexual é isso mesmo: uma orientação, não uma opção). Mas cada um de nós pode escolher, construír, compensar, alterar e melhorar, todos os dias, a nossa forma de estar perante nós mesmos, perante os outros e perante o Mundo. É pena que muitas pessoas não tenham essa capacidade.

4 comentários:

poor guy fashion victim disse...

well done

João Sousa disse...

Assassinou um casal gay com 57 facadas, depois incendiou a casa e foi absolvido… A homofobia não tem limites? Confiram a história, aqui!

Zunkruft disse...

Obrigado pelo link e por ter partilhado, não só a história, tal como o seu blogue - desconhecia de ambos.

Se no caso do sistema de justiça, as coisas em Vigo são feias, transcendem o heterossexismo e entram no campo claro da homofobia; já no caso do criminoso, é ainda pior. Os psicoterapeutas e psiquiatras poderão esclarecer melhor sobre isso, mas creio tratar-se de um caso que transcende a homofobia e que é claramente psicótico (eventualmente esquisofrénico). Não que isso sirva de desculpa, mas serve apenas para ajudar a traçar um quadro e para (com)provar que a homofobia É, DE FACTO, um distúrbio da personalidade e que há muitas pessoas que sofrem disso sem se aperceberem.

Cumprimentos!

Anónimo disse...

Eu sei que não tem nada haver com este assunto, mas a Isabel Stilwell está claramente esquizofránica, remeto para o artigo do dia 19 de Outubro (pág. 5) http://www.destak.pt/docs/1160/lisboa-pdf.pdf