quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Homem-Aranha, Super Homem e... Barack Obama


I'm sorry Obama, but I don't trust in you.

Assim começa o meu novo post. E é verdade. Barack Obama não conquistou a minha confiança e, portanto, não me vou juntar à maralha que organiza ovações ao senhor.

A primeira sensação que me dá - e que é extremamente enervante - é que os Portugueses estão tão preocupados, interessados e atentos com as eleições norte-americanas... como nunca estiveram com as portuguesas (sejam autárquicas, presidenciais ou legislativas)! E logo nós que somos tão patriotas e defensores do que é nacional quando toca a duas coisas: feriados no calendário e dia de jogo da selecção nacional de futebol. Para isto sim, já somos patriotas.
Mas pulando novamente para território americano...

Acho que Barack Obama mostrou demasiada demagogia (mais do que José Sócrates ou que Manuela Ferreira Leite...) e pareceu-me ser bastante teatral.
Não ponho em causa as convicções políticas do futuro Presidente dos E.U.A., mas ponho em causa a capacidade de liderar não só a potência que o país representa para o Mundo, mas o territótio itself.

Uma coisa ninguém pode negar, seja-se apoiante dele ou não: Barack Obama foi levado ao colo por quase todos os media. Na maior parte das vezes a única coisa que pareceu faltar foi canonizar e beatificar o homem! Claro que isso favoreceu-o, e ele ajudou à festa. Determinados pontos da retórica de Obama (sempre previsível e forçada... quase parecendo que estava a proferir as ideias e palavras de outrém), bem como a postura durante a campanha e a imagem física (pose para as câmeras inclusive) que passou para o "povo" foram sempre com a intenção de fazer Obama parecer a sequela de Martin Luther King.
A diferença é que MLK parecia convicto daquilo que dizia, porque a tensão social era infinitamente maior, e Obama pareceu estar a brincar ao teatro em algumas aparições públicas.

Simultâneamente, o inverso aconteceu a John McCain. Eu não sou adepto de políticas de direita, mas John McCain foi claramente desfavorecido pelos media. Ele também não ajudou e fez questão de enterrar-se a ele mesmo, seja com os ataques ao Santo Obama (que fizeram ricochete, naturalmente!), seja com a infeliz escolha da barata tonta da Sarah Palin. A verdade é que os media fizeram questão de sublinhar que McCain é um candidato republicano e que, em 2008, ser-se republicano significa "W. Bush parte II" para os americanos e para o Mundo... o dos ignorantes, claro.

O que o mundo dos ignorantes não sabe é que John McCain pertence à ala mais esquerdina dos republicanos conservadores (portanto, é uma espécie de centro-direita) e que teve bastantes conflitos com George W. Bush durante a campanha em 2000. Estes acontecimentos fizeram com que McCain tivesse sido virtualmente alienado pelos republicanos e ter sido visto, então, como um outsider. Se repararmos bem, Bush raramente apareceu ao lado de McCain na campanha. E se nos lembrarmos ainda melhor, McCain apareceu com sorriso forçado e "cara de chinesa" ao lado de Bush, após desistir das eleições em 2000. Portanto, não são propriamente amigos.

O que mais me assusta em Obama, para além do que supra-mencionei, é a lacuna de conteúdo e de matéria palpável sobre (reais) políticas governamentais no discurso dele. Ao invés disso, Obama compensou essa lacuna com muitíssimo eloquente paleio vazio sobre a harmonia universal e sobre a distribuição de riqueza.
Custa-me a acreditar como é que as pessoas não têm inteligência suficiente para perceber que o facto de Obama ser o primeiro presidente negro apenas vai ter importância em termos culturais... e a longo prazo.

Mas não sei qual dos lados, o pior.
Mais assustador ainda foi a possibilidade de Sarah Palin vir a tornar-se vice-presidente daquilo que os E.U.A. representam para o Mundo. Como Matt Damon disse, foi assustadora a possibilidade de uma dondoca (de uma hockey mom, como lhe apelidou) poder ter nas mãos dela o poder do botão nuclear que controla o Mundo, sendo ela uma senhora que em entrevista demonstrou que nem sequer fazia a mínima ideia de quem Sarkozy e Zapatero eram!

Mas voltando a Obama, a sensação que me dá é que Barack Obama andou todo este tempo a prometer mundos-e-fundos sem fazer a mínima ideia se possui os recursos para consegui-los. E o pior de tudo é que, a outra sensação que me dá é que, esses recursos não são suficientes e nem a estrutura sócio-político-cultural dos E.U.A. permite fazer algumas dessas mudanças.
Aquilo em que Obama pode ser positivo é para desfiar algum do enooooooooooorme desfasamento de mentalidades e de way-of-life que existe entre os grandes centros urbanos litorais (NY, a Califórnia, Boston, Chicago, SF, SJ, e mais um ou outro) e a restante América ideologicamente perdida no meio destes dois polos. Eu acho que é por aí que se tem que começar...

A questão põe-se na actual situação. Como é que Obama vai redistribuír a riqueza nos E.U.A. através dos impostos e vai enfrentar a crise que ainda está para vir simultâneamente?

O problema maior, e para o qual os E.U.A. souberam até há alguns meses desviar as atenções, é que a indústria pesada norte-americana - em sectores fulcrais - está arrasada... e a verdadeira crise ainda não chegou! O exemplo disso é a indústria automóvel norte-americana que tem um peso enorme na economia e que está... pelas ruas da amargura.
Chrysler está nas ruínas e desesperada à procura de um parceiro que lhe injecte capital.
A Ford colecciona prejuízo e resultados negativos e só a divisão Ford Europa é que dá lucro. O desespero é tão grande que os produtos da Ford Europa vão passar a ser comercializados nos States... mesmo com o Euro a valer muito mais e a prejudicar as importações.
A General Motors... ou arranja um plano de salvação e sai do vermelho (vermelho não... bordeaux!), livra-se de algumas das inúmeras (e desnecessesárias) marcas que possui e reformula por completo a sua estrutura interna e industrial ou estamos muito mal.


E o problema é que a indústria automóvel é apenas uma ponta do icebergue e que se os gigantes Ford e GM caírem... muita coisa nos E.U.A. e fora dele (empresas, fábricas, bancos... em todo o Mundo) vai caír atrás deles por arrastão e aí ninguém vai poder salvá-las.
Acho que ninguém está verdadeiramente a preocupar-se com isso. Ao invés disso, Obama fala em redistribuição da riqueza e, logo, do consumo... e acho que não é por aí que se devia partir.
A verdade é que Obama foi apanhado de surpresa pelo eclodir dos sinais mais preocupantes da crise a meio da campanha e, provavelmente, não tem/tinha um plano B.

Acho que o Barack Obama não é, nem de longe, revolucionário e que não vai salvar o Mundo. Portanto, não dou pulos de alegria, mas fico céptico e em stand by em relação ao panorama.

3 comentários:

poor guy fashion victim disse...

E já reparaste que na california há quase uma justapossição entre os resultados da Proposition 8 e os resultados do McKain? Credo até arrepia

http://www.latimes.com/news/local/politics/cal/la-2008election-california-results,0,1293859.htmlstory?view=8&tab=0&fnum=0

Anónimo disse...

Até agora Obama tem-se estado a munir do melhor que há nos U.S para a sua equipa, principlamente a nível do tesouro,Energia, economia e defesa nacional, optando por muitos da era Clinton, são tempos diferentes,é certo, no entanto não se pode desvalorizar o valor e trabalho que essas pessoas representam.

Enquanto falavas na Ford U.S, lembrei-me que a FordEuropa aumentou o seu resultado líquido, e, tal como a tendência o sugere, em vez de abrandar com a sua produção, vai investir! Interessante...

Já agora, qual a tu opinião em relação ao Jãpão e países emergentes no meio disto tudo? Qual o papel que eles vão representar no meio desta crise?

jd.

Zunkruft disse...

Isso é verdade. Basta ver o encontro com o ex-adversário em que ambos pareceram concordar em n assuntos e discutiram algumas estratégias de resolução de problemas.

Não pretendi desvalorizar o potencial de Obama (e da sua crew) enquanto Presidente, pelo contrário. Quis foi pôr o enfoque no mediatismo irritante (e até algo desnecessário) à volta de Obama e que ele foi levado ao colo, tanto pelos media, como por diversas personalidades influentes entre as massas. Isto é indiscutível.

Tenho estado atento a algumas das medidas a que se pretende submeter e espero, sinceramente, que vá para a frente com elas.

A FordEuropa (que é a fusão das antigas Ford UK e Ford Alemã) é quase uma divisão à parte, como se de uma marca independente se tratasse. Tem uma sede e um #1 específicos e o desenvolvimento dos produtos é feito cá na Europa.

A diferença reside aí. Enquanto que a casa-mãe tem ido atrás da rival GM adoptando medidas erradas de gestão do grupo, às quais a mudança radical da forma de pensar dos consumidores de automóveis americanos, a FordEuropa tem sido exímia na gestão de produto e os resultados estão à vista...

A FordEuropa vai aumentar a produção dos seus modelos? Pudera! Está a renovar a gama e a descartar-se das propostas em fim-de-vida. Os novos Ka e Fiesta representam uma fatia considerável da produção. Estando a ser renovados, é natural que o interesse seja maior (ainda por cima quando foram bem recebidos pela imprensa) e que a produção contrarie a tendência da indústria.

O Japão e os países emergentes são casos particulares.
Aos países emergentes não será difícil resolver o problema da crise nesta indústria especificamente. Os construtores não vão evitar a construção de fábricas por lá e a aproximação de uma crise significa a subida das vendas de produtos mais racionais (não necessariamente acessíveis). É este tipo de produtos que as marcas produzem na Europa de Leste ou na América do Sul, por exemplo (ex: 107/C1/Aygo, Panda/500/Ka, Twingo, a gama Dacia, a fábrica da ex-jugoslava Yugo que passa para as mãos da Fiat, a fábrica da Polónia do Ágila/Splash, o Hyundai i30/Kia Cee'd na Eslovénia, etc).

O Japão é um caso delicado porque, à excepção da Toyota (que, depois de ameaçar a liderança da GM por uma década, apresentou prejuízos pela primeira vez em muitos anos) e da Honda, os restantes construtores japoneses estão nas mãos de outros grupos industriais. É uma questão de esperar e ver quais serão as movimentações nos próximos "episódios".