segunda-feira, 13 de outubro de 2008

S&P alerta: Ford, Chrysler e GM podem ser forçadas a abrir falência


A S&P (índice de bolsa norte-americana) alertou na semana passada que a Ford, o Grupo Chrysler e a General Motors - os três grandes fabricantes de automóveis norte-americanos - podem ser forçados a declarar falência devido ao abrandamento económico.

Este aviso não é, de todo, descabido e faz todo o sentido. Por um lado, se tivermos em conta o estado debilitado da economia e de diversos sectores da indústria norte-americana. Por outro lado, porque estes três grupos vêm apresentando resultados desfavoráveis.

Para isso, façamos uma retrospectiva e algumas previsões e falemos de alguns rumores.

Grupo Chrysler
É o menos importante dos três construtores e abarca marcas como a Chrysler, a Jeep e a Dodge. Pertenceram ao mesmo grupo da Mercedes/Smart até há alguns anos, mas a Daimler decidiu vender 80% destas três marcas americanas a um consórcio. Há muitos anos que qualquer uma destas marcas está descaracterizada e que apresenta resultados negativos.

Ford
O grupo Ford detém actualmente, marcas de diversas origens. Para além das americanas Ford, Lincoln, Mercury (Alguém ouviu falar destas duas? Pois, acho que já nem o americanos se lembram delas...), a Ford é detentora da sueca Volvo (que dá prejuízo desde 2005 por falta de uma gama mais recente e apelativa), da japonesa Mazda (que tem sido arrasada no mercado doméstico, mas que tem feito furor nos
States e na Europa, onde passava despercebida há 15 anos) e vendeu a muito exclusiva britânica Aston Martin recentemente.

A Ford é extremamente simbólica na nossa cultura por causa do modelo T (revolucionário automóvel que iniciou a estandardização da indústria e que faz este ano... 100 anos!), está a passar um mau bocado há muitos anos. Nos anos 90 era o segundo maior construtor mundial atrás da GM. Hoje passou para a 4ª posição. Os resultados no mercado doméstico têm sido devastadores e a ausência de uma gama que se adapte aos gostos dos americanos, que mudaram radicalmente duas ou três vezes em 25 anos, não tem ajudado.
Apenas a Ford Europa (sediada na Alemanha e na Grã-Bretanha) tem lucrado - está de muito boa saúde financeira... e recomenda-se! - aqui pelo Velho Continente. De tal forma, que a Ford americana decidiu que vai começar a comercializar os produtos da filial euroopeia para terras do
Tio Sam.

Correm rumores de que quer vender a Volvo e a Mazda (ou seja, aquelas que causam menos danos e que são mais versáteis, em vez de se livrar da Mercury e da Lincoln).

General Motors
Há quase uma década que a Toyota Motors (Toyota, Lexus, Scion, Dahiatsu...) está coladíssima ao
gigante americano no segundo posto, mas parece que ainda não vai ser em 2008 que a Toyota destornar a GM do primeiro lugar mundial, posição que lhe pertence há mais de 60 anos! Mas não deve faltar muito.

Mas a culpa é do próprio grupo. Na minha opinião, a GM só é o gigante que ainda conhecemos por causa da sua influência, porque o grupo tem tido uma gestão desastrosa na desde o final da década de 60.
O que é um desastre na General Motors? Em primeiro lugar, o imeeeeeeenso espólio de marcas que colecciona e que comercializa pelo Mundo inteiro. A saber: Buick (que os americanos já mal conhecem, mas que tem feito furor... na China), Cadillac (marca de luxo cuja implantação na Europa tem sido mal sucedida, Chevrolet (cuja gama norte/sul-americana não têm nada a ver com os europeia), Daewoo (cujo nome já so existe na Coreia do sul - na Europa os Daewoo existem... mas sob o nome Chevrolet), GMC (US trucks only), Holden (apenas na Oceania e que consiste numa mescla de modelos de várias marcas), Hummer, Pontiac, Saab (a marca sueca
premium que a de quem a GM não quer saber). Depois temos a Opel, a Saturn e a Vauxhall. Basicamente os mesmos modelos. A diferença é que a Opel vende na Europa, a Vauxhall apenas no Reino Unido e a Saturn são os Opel nos Estados Unidos.

Foi suficientemente confuso? Óptimo, era o que eu pretendia.

Resumindo, a GM anda há decadas com a praticar a política do
rebadging/rebranding no Mundo inteiro e com gamas de gosto duvidoso nos diversos mercados mundiais. Por outro lado, possui um sem número (mais de 60) de fábricas espalhadas pelo globo. A ajudar à "festa" tem marcas que só sabem dar prejuízo e com as quais não há volta a dar.

Ainda nesta década, a GM chegou a comprar parte do Grupo Fiat (Fiat, Alfa Romeo, Lancia, Maserati, Ferrari) - que estava quase falido, depois dos disparates dos anos 80 e 90, mas o negócio correu tão mal, que a Fiat "veio-se embora" com uma mega-indeminização.

Recentemente, a GM anunciou o Volt, automóvel que se apoia no novo conceito de híbrido (diferente do Toyota Prius e de outros que são comercializados hoje) que é o futuro dos principais construtores mundiais a curto/médio-prazo, enquanto os carros eléctricos e a hidrogénio não se impõem definitivamente. A GM tem esperança que este novo produto (que irá sofrer de
rebadge e de "n" versões, claro) seja a salvação do grupo.

Aproveito para relembrar que a GM fechou, depois de décadas, a fábrica da Azambuja, onde eram produzidos o Opel Corsa III e o Opel Combo, e foi obrigada a devolver os incentivos que o Estado português ofereceu (pelo menos não foi como a Renault que "pisgou-se" com os incentivos).

O que o futuro lhes guarda e o que nos aguarda a nós

Hoje foi publicada a notícia de que a GM e a Chrysler poderão... fundir-se uma na outra, o que é natural, dado o desespero. A GM também foi perguntar à Ford se não queria ir viver com ela, mas a Ford respondeu prontamente "Não!". Por outro lado, a Chrysler, que anda louca à procura de um parceiro, começou em conversações com os chineses da Chery e também anda em conversações com a Fiat e com a Renault/Nissan.

E se, de facto, estes três gigantes da indústria automóvel declararem falência?
A garantia é que, sendo a Ford e - ainda mais - a GM, duas das empresas mais importantes nos E.U.A. e no Mundo, a falência destes dois irá arrastar com eles milhares e milhares de outras empresas e de outros negócios e investimentos deles dependentes. Poderá significar mais uma acha na fogueira - e das grandes! - para uma crise mundial.

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